Em nova reportagem do Jornal O Estado de São Paulo, o delator e Ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, revelou durante a delação premiada a justiça que o governador Sebastião Viana (PT/AC) teria recebido R$ 300 mil para sua campanha na disputa do governo do Acre em 2010. Viana é o primeiro governador petista a ser citado na Lava Jato e integra uma extensa lista de 28 políticos de todo o país acusados pelo ex-diretor na delação por meio da qual espera ter sua pena reduzida.
O delator afirmou que o dinheiro que teria sido destinado para Viana saiu da cota de 1% do PP – Partido Progressista – que tinha o controle político da diretoria Abastecimento da estatal. O nome de Viana aparece numa agenda de anotações de Costa, apreendida em sua casa no Rio de Janeiro. Nela, estão registradas iniciais de nomes de políticos com números relacionados a eles. No caso do governador petista foi registrado “Tvian” ladeado do número “0,3″ – equivalente a R$ 300 mil, segundo o delator.
Nas mesmas anotações em que aparece a expressão “Tvian”, há o registro de “PB”, seguida do número “1,0″. O valor seria o registro do pagamento de R$ 1 milhão para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, dado para a campanha da senadora e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffman, segundo o delator. Dos depoimentos sigilosos, já vieram à tona outros nomes de supostos beneficiários de dinheiro de propina dos contratos da Petrobrás ligado ao PT, como o do líder do partido no Senado, Humberto Costa (ex-ministro do governo Dilma Rousseff).
Gleisi e Costa teriam recebido o dinheiro, por meio de intermediários, para campanhas políticas. Eles negam categoricamente ter recebido propinas. Quando falou pela primeira vez à Justiça Federal, sem segredo no processo, em 8 de agosto, o ex-diretor de Abastecimento explicou ao juiz Sérgio Moro, que conduz os autos da Lava Lato, que a lista era referente aos pagamentos providenciados pelo doleiro Alberto Youssef, operador da lavanderia transnacional usada no esquema. O juiz questionou como ele sabia que os políticos recebiam valores do esquema que arrecadava de 1% a 3% dos contratos da estatal.
“Esses políticos, por exemplo, esses agentes públicos, que eles recebiam a parcela deles, como é que o senhor tinha conhecimento sobre isso?”, perguntou o magistrado. “Nós tínhamos reuniões com uma certa periodicidade com esse grupo político, né? E essa periodicidade então se comentava “ó recebemos isso, recebemos aquilo”, etc”, respondeu Costa.
O ex-diretor citou então as anotações da agenda pessoal. “Na minha agenda que foi apreendida na minha residência, tem uma tabela que foi especificada, detalhada junto ao Ministério Público, e essa tabela revela vários valores de agentes políticos de vários partidos relativos à eleição de 2010. Essa tabela eu copiei no escritório do Alberto (Youssef), em uma reunião que eu tive lá com ele.”
RESPOSTA DO GOVERNADOR
Em nota oficial divulgada na tarde desta sexta-feira, 19, o governador Sebastião Viana repudiou “a tentativa de vinculação do meu nome com qualquer atividade do senhor Paulo Roberto Costa, que não conheço, nunca recebi e tampouco procurei”.
“Em 12 anos de mandato no Senado Federal, trabalhei de forma determinada pela transparência nas atividades de todas as esferas e níveis do Poder Público. Apoiei, votei e fiz o combate à corrupção, inclusive nas mais rigorosas CPIs do período – a princípio como senador de oposição ao governo tucano e depois, na base do governo do PT”, diz Sebastião.
Ainda no comunicado, Sebastião enfatiza que tomará as medidas judiciais cabíveis em relação as citações. “tratarei na Justiça qualquer assunto que venha comprometer minha idoneidade, a exemplo do caso em questão. Todas as vezes que me atacaram, revelou-se que fui alvo de elementos vinculados à politicagem, corrupção ou extorsão. Asseguro que agora não é diferente”, disse.
TRANSAÇÕES DE R$ 300 MIL FORAM REGISTRADAS EM 2010
Apesar de Paulo Costa afirmar que o dinheiro para a campanha de Sebastião saiu de uma cota do PP, o ac24horasrealizou uma pesquisa minuciosa nas planilhas das Prestações de Contas de 2010, ano em que Sebastião foi eleito pela primeira vez governador do Acre. (Veja tabela abaixo)
De acordo com o material disponibilizado pelo TSE, o Comitê de Campanha do governo recebeu dois repasses de R$ 300 mil, totalizando R$ 600 mil. A primeira transferência foi Diretório Estadual do PT, que repassou a campanha de Sebastião R$ 300 mil datados de 2 de setembro de 2010. A outra doação, também de R$ 300 mil, foi da empresa IESA Óleo e Gás S/A que fez uma transferência eletrônica no mês de agosto de 2010. O que a pesquisa não conseguiu verificar e se um desses dois valores seriam os R$ 300 mil referidos pelo delator.
LAVA JATO RESPINGOU EM OUTROS POLÍTICOS DO ACRE
Na semana passada, ac24horas revelou, com base nas prestações de contas disponibilizadas pelo TSE, que as campanhas de governistas e oposicionistas no Acre haviam sido bancadas por empresas investigadas na operação Lava Jato da Policia Federal.
O primeiro a ser citado foi o deputado federal reeleito Sibá Machado (PT/AC). Ele recebeu R$ 120 mil das empresas Engevix Engenharia e a Constutora OAS envolvidas nas investigações da Operação Lava Jato. As duas empresas fizeram duas transferências para a campanha do PT nacional e acreano no valor de R$ 120 mil e esses valores foram repassados para o comitê de campanha do petista. As doações das empresas são datadas de 8 de agosto de 2014.
Já pelo lado da oposição, os candidatos ao governo pelo PSDB e DEM , Marcio Bittar e Tião Bocalom, respectivamente, receberam recursos para suas campanhas das empresas Andrade Gutierrez e UTC Engenharia. Juntas, as empresas doaram R$ 340 mil para a campanha da oposição. O diretório da campanha de Bittar recebeu R$ 240 mil da Andrade Gutierrez e uma das contas de campanha do Bocalom registrou R$ 100 mil da UTC Engenharia, ambas investigadas pela Polícia Federal por suposto pagamento de propinas a políticos e funcionários da Petrobras em troca da obtenção de contratos superfaturados com a estatal.
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