Os tratamentos de câncer de mama e o uso da quimioterapia podem sofrer alterações, graças ao estudo realizado por um grupo de pesquisadores da Ontario Institute of Cancer Research, em Toronto, no Canadá. A acreana Joema Felipe Lima, de 35 anos, é a única médica brasileira do estudo e sua equipe ganhou, no dia 21 de março, um prêmio internacional no 14ᵒ St. Gallen International Breast Cancer Conference. Natural de Rio Branco, Joema se formou em medicina na Universidade Federal do Pará (UFPA) e por um ano foi professora da Universidade Federal do Acre (Ufac).
No estudo intitulado 'Luminal A vs Luminal B: Impact of different St.Gallen Ki67 and PgR cut points in the TEAM study' eles avaliaram o método de separação dos pacientes com câncer de mama, que normalmente são divididos em luminal A (menos agressivo) e luminal B (mais agressivo), usando como base um biomarcador de proliferação chamado Ki67, que no caso é uma proteína. Foram avaliados 3.790 pacientes
"Existem estudos e instituições que querem dividir câncer de mama com receptor de estrogênio em dois grupos: luminal A e luminal B. Nossos dados e nosso questionamento é se essa dicotomização pode realmente ser feita, uma vez que o câncer de mama é muito heterogêneo e, entre esses tumores, existem nuances de gravidade. Não é pranco ou preto", explica.
Para ela, a pesquisa é importante porque muitas vezes os pacientes acabam recebendo o tratamento de quimioterapia sem necassidade. "Quando se categoriza as pacientes como luminal B, ela recebe quimioterapia. O que estamos questionando é se essa categorização, baseada nos valores de Ki67, serve para a paciente. Eu acredito que não, porque esses valores são arbitrários e não refletem o comportamento biológico do tumor e ainda faz a paciente receber tratamento quimioterápico sem necessidade", afirma.
Por conta desse e outros estudos, o congresso, em que os pesquisadores foram premiados, decidiu abandonar os antigos conceitos do uso do biomarcador para determinar o tratamento de quimioterapia. "O estudo ganhou o prêmio de primeiro lugar justamente por desafiar o status e a maneira com que outros pesquisadores enxergam a doença", diz Joema.
Ela acredita que, gradativamento, haverá mudanças na hora de determinar quem deve ou não receber o tratamento em quimioterapia. "O consenso [da Conferência] lança orientações que podem ou não serem seguidas pelas instituições. Relacionando ao meu trabalho, o paciente deverá ter um Ki67 maior ou igual a 30% do tumor para ser considerado luminal B", explica.
fonte g1