O preço da carne bovina aumentou quatro vezes em menos de um mês nos açougues de Cruzeiro do Sul (AC). A elevação é um reflexo da falta de bois suficientes no município que precisa importar das cidades de Feijó (AC), Tarauacá(AC) e Guajará (AM). De acordo com o proprietário de um frigorífico em Cruzeiro do Sul, Sebastião Correia, nos últimos meses esses municípios estão dando preferência para o estado de Mato Grosso.
A matéria-prima é o boi e não está existindo. Cruzeiro do Sul nunca abasteceu a cidade, a dificuldade é essa. Eles levam para o Mato Grosso para engordar e a tendência para cá é piorar. Se o governo aumentasse o imposto para tirar o boi vivo daqui talvez melhorasse essa situação. Com a falta, o preço acaba aumentando também”, explica.
Em dezembro de 2014, o valor repassado pelos frigoríficos aos açougues era de R$ 8,10 o quilo. No mesmo mês subiu para R$ 8,20 e, nesta semana, apresentou dois novos reajustes, chegando a R$ 8,70. Quando repassado ao consumidor, esse valor fica ainda mais elevado.
As carnes de primeira não são encontradas por menos de R$ 16 o quilo. O patinho, que antes era vendido por R$ 16 o quilo, está custando R$ 18. A picanha também registrou um aumento de R$ 3, passando de R$ 20 para R$ 23. Já o filé, encontrado antigamente por R$ 22, atinge hoje o preço de R$ 25.
Com um preço mais acessível, a carne de segunda é a que apresenta uma variação de preço mais leve. Os valores subiram cerca de R$ 2, como a agulha, que passou de R$ 11 para R$ 12 e a bisteca, saltando de R$ 14 para R$ 16.
O autônomo Antônio Francisco do Nascimento, de 49 anos, diz que cada vez que compra carne se depara com um valor diferente e muitas vezes chega a não encontrar o produto no mercado.
Na segunda-feira (12) mesmo foi um dia que eu vim comprar por volta de umas 10h e já não tinha mais carne. Voltei no outro dia mais cedo e consegui, mas o preço está muito alto. Na semana passada, comprei por um preço e hoje já é outro. Agora a gente tem que comer carne parcelado, um dia sim e outro não, desse preço não dá”, reclama o cliente.
A aposentada Nazaré Pinheiro Souza, de 73 anos, procurou o mercado para comprar carne e mais uma vez se surpreendeu com o preço encontrado. Ela pagou R$ 42 em pouco mais de uma quilo do produto.
Antes por esse preço eu comprava carne que dava para comer a semana inteira, agora não dá mais do que para duas refeições. Não está nada fácil comer carne de qualidade aqui na nossa cidade, o preço está absurdo”, afirmou.
A professora da zona rural Maria José da Silva Gabriel, de 35 anos, reclama que não é mais possível comer carne bovina diariamente, em razão do preço. O frango e peixe tomou lugar na mesa da educadora.
“Antes até tinha como comer carne todos os dias, mas agora está mais difícil. A gente tem que encontrar uma solução e comer peixe, frango, acaba ficando mais em conta. O salário mínimo aumenta pouca coisa e o preço dos produtos sobem o triplo”, destacou a professora.
O funcionário público Aslan Almeida salienta que a população vem sofrendo com constantes aumentos e cobra uma solução. “A gente fica sem saber o que falar. Os frigoríficos alegam que não tem o produto, esperam o aumento no preço e de repente essa carne aparece. Está um absurdo, a gente encontra de até R$25 o quilo da carne. Pedimos socorro para alguma autoridade. Eu comprava a alcatra de R$15 e agora está R$20 o quilo, queremos uma solução”, reclama.
O açougueiro Eládio Ferrreira Lima, trabalha no ramo há 12 anos e conta que nos últimos meses, apesar da carne estar sendo levada pelo frigorífico para os açougues do município, a quantidade reduziu e a entrega não é realizada mais diariamente.
“Eles estão até entregando carne aqui nos açougues, mas não é todo dia, na segunda-feira, por exemplo, só três açougues daqui conseguiram abrir, os outros não tinham carne, e quando vem é pouco, eles estão entregando no máximo meia banda de boi por açougue”, conta.
De acordo com o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf), o número de bovinos em Cruzeiro do Sul é quase 75% inferior ao de Tarauacá.
Cruzeiro do Sul conta com aproximadamente 30 mil cabeças de bovino, já Tarauacá tem mais de 150 mil. O rebanho de Cruzeiro do Sul é insuficiente para população local, sendo abastecido pelos municípios vizinhos”, afirmou o veterinário do Idaf Luiz Leite.
fonte g1