No final de agosto de 2015, representantes do governo do Estado anunciaram o início das obras emergenciais de recuperação da BR 364, especialmente no trecho entre Tarauacá e a ponte do rio Liberdade, em Cruzeiro do Sul. Porém, passados quase quatro meses, os motoristas têm que exercitar muito a paciência na condução cuidadosa, evitando prejuízos aos seus veículos e cargas.
As contratações para recuperação emergencial foram anunciadas, com algumas máquinas sendo colocadas nos trechos ainda em setembro, mas as formalizações dos contratos entre as empresas com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte – DNIT não ocorreram à época.
“As empresas mobilizaram equipamentos, insumos e pessoal, atendendo as solicitações do governo, mas infelizmente não se firmaram os contratos no seu devido tempo e acumulamos créditos a receber. São milhões de reais que as empresas empregaram em combustível, transporte de insumos entre outras despesas e não temos condições de arcar com o financiamento de tamanha envergadura, sem qualquer segurança jurídica e financeira”, disse um importante empresário sob a condição do anonimato.
A contratação do Plano de Obras Funcional capaz de restabelecer as condições de tráfego da rodovia, até o início de novembro ainda estava em andamento na Superintendência do DNIT RO/AC, tendo havido a opção de utilizar a solução técnica de macadame hidráulico, 30% mais caro que a solução solo-brita, o que elevou os custos dos serviços para cerca de R$ 78 milhões.
A solução macadame hidráulico não é recente, com a técnica aplicada em estrada inicialmente nos EUA em 1823, e consiste em assentar três camadas de pedras postas numa fundação com valas laterais para enxugo da água da chuva. As duas primeiras camadas, a uma profundidade de aproximadamente 20 cm, recebem brita de tamanho máximo 7,5 cm. A terceira camada é feita com 2 camadas de 5 cm, cheias de pedra de tamanho máximo de 2,5 cm. Cada camada é calcada com um rolo pesado (um cilindro), fazendo com que as pedras se acamem umas nas outras. Este assentamento de sucessivas camadas de pedra gradualmente menor, de modo que as pedras maiores sirvam de base sólida e levando a que o cascalho fino nivele o solo, é conhecido como macadam water-bound. Embora este método requeira intensa mão-de-obra, resulta num pavimento forte e enxuto.
Porém, em razão do contingenciamento dos recursos pelo DNIT, nos locais onde houve a intervenção na BR 364 as empresas não completaram todas as camadas e as pedras maiores não foram compactadas com as outras menores, ficando o pavimento pontiagudo, tornando a trafegabilidade desconfortável e oferecendo riscos de amassar rodas de veículos pequenos e para condutores de motocicletas.
O chamado “inverno amazônico” se aproxima com a intensificação do período de chuvas, comprometendo ainda mais as péssimas condições de trafegabilidade da BR 364, em vários trechos críticos entre a cidade de Sena Madureira e a ponte sobre o Rio Liberdade, num total de 400 km aproximadamente.
O representante comercial Leonardo Viana viaja pela estrada mensalmente entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul e atesta que a estrada é muito perigosa: “são muitos buracos e enormes, alguns que engolem todo o carro, sendo necessária uma atenção redobrada para não acontecer acidente”.
Já para o motorista de caminhão Reginaldo Melo a preocupação maior é com a carga: “transportamos cargas de alto valor e em razão da buraqueira o risco de dano é grande; toda hora temos que parar e checar se está tudo bem o que aumenta ainda mais o tempo do transporte”, declarou. Entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, com caminhão carregado, o tempo da viagem demora entre 13 e 15 horas.
A gestão da estrada federal foi repassada ao Governo do Estado do Acre ainda em 2000, durante o governo de Jorge Viana, assim permanecendo até 2014 já no governo Tião Viana, em virtude de convênios de delegação de obras, e, segundo informações recente do Tribunal de Contas da União (TCU), “no levantamento realizado, verificou-se, apesar do expressivo volume de recursos aplicados na construção da rodovia BR 364/AC, aproximadamente R$1,4 bilhões desde 2005, a baixa qualidade de grande parte dos serviços executados, com alguns segmentos praticamente intrafegáveis sob determinadas condições, especialmente no trecho compreendido entre os municípios de Sena Madureira e Cruzeiro do Sul”.
Ainda segundo o TCU, “até 2014, a responsabilidade pela gestão da malha rodoviária federal no estado do Acre era compartilhada entre o DNIT e o Deracre, sendo este último o responsável por 58% dos trechos pavimentados, em virtude de convênios de delegação de obras”.
O Acreaovivo.com tentou contato com escritório do DNIT no Acre, mas a atendente informou que a “assessoria de imprensa é em Porto Velho e somente lá poderia dar alguma resposta”. Em contato com DNIT/RO foi dito que retornariam a ligação, o que não ocorreu.
fonte acreaovivo.com