Eles não falam nem entendem nenhuma palavra em português e só depois de muita persistência, e com ajuda de intérpretes da etnia Jaminawa,
o G1 conseguiu conversar com um deles, chamado de Curumim pelos moradores da casa.
A aldeia isolada onde os dois viviam fica a quatro horas de viagem de barco da cidade de Feijó, no interior do Acre. Os dois estão morando em um local improvisado na casa da índia Mariquinha Jaminawa, que vive na Cidade do Povo há cerca de três anos.
Curumim é um dos índios que aparecem fazendo contato em junho de 2014, com índios ashaninkas, na Aldeia Simpatia, da Terra Indígena Kampa e Isolados do Alto Rio Envira.
Ele conta que onde vivia, inicialmente, não tinha contato com ninguém, nem mesmo indígenas de outras etnias. Com o tempo, passaram a conhecer outros povos até a chegada da Fundação Nacional do Índio (Funai), na base Xinane.
A relação entre a Funai e os isolados complicou quando os intérpretes que faziam essa ponte foram demitidos, segundo ele.
Sobre sentir saudade da família, Curumim diz que sempre pensa nos parentes. “Todo dia eu lembro da minha mãe, do meu pai, meu irmão e irmã. Todo dia estou lembrando deles lá”, diz.
O outro indígena que chegou em Rio Branco junto com Curumim, foi para Sena Madureira visitar outros parentes.
O índio diz que acha bom viver na cidade, apesar da diferença nos costumes. Com um corte de cabelo diferente do que fazia na aldeia, Curumin diz que prefere o novo visual.
“Tenho roupa agora. Lá eu não tinha e andava nu. Aqui é bom, corto meu cabelo como o de vocês e não mais como era lá”, fala com um sorriso.
“O que eu tiver aqui, posso comer com eles. Lavo a roupa deles. Por mim mesmo, está tudo bem. Ajudo como posso ajudar. Tem dia, quando recebo meu dinheiro, compro macaxeira para ele comer ou banana também”, diz Mariquinha.
Um dos motivos para a saída dos índios isolados da aldeia é a falta dos intérpretes que faziam a ponte entre eles e a equipe da Funai. Eles contam que há cerca de oito meses foram desligados e desde então, os índios passaram a deixar a aldeia.
Um dos intérpretes que trabalhava no local, Lula Pereira Jaminawa, conta que começou a trabalhar na aldeia isolada desde 2014. Ele fala das dificuldades do trabalho e da situação após as demissões.
“Quando estávamos trabalhando lá, os parentes [índios isolados] viviam lá todos com a gente. Não tinham vontade de vir para a cidade. Depois, quando o coordenador da Funai tirou a gente de lá, os índios souberam que a gente não ia mais e por isso, começaram a sair. Sabiam onde a gente morava e vieram bater em Feijó”, conta o intérprete.
O motivo para a demissão dos cinco intérpretes seria a falta de recurso. “Eles não vão ficar lá. Acho que mais índios vão sair. Eles querem vir para a cidade, porque eles não entendem o pessoal da Sesai e Funai que estão lá”, explica
Outro motivo para os índios isolados deixarem a aldeia, segundo o intérprete Edson Pereira Jaminawa, seria a fome e também o medo dos conflitos madeireiros peruanos. Segundo ele, existem ainda os casos de mortes entre os próprios indígenas da região.
Conforme o intérprete, ao menos 35 índios isolados, entre mulheres, homens e crianças deixaram a base Xinane. Hoje ainda tem pouco mais de 20 índios na aldeia.
“O primeiro contato foi muito perigoso. Eles pegavam flecha para nos matar. Eles viviam bem, não pensavam na cidade não. Mas, saíram de lá uns 35 e alegaram fome e briga com madeireiros peruanos. Os peruanos matavam um bocado deles e os próprios índios matavam eles. Por isso começaram a sair”, afirma o indígena.
fonte g1.globo.com
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