Surto de tuberculose ameaça presos no interior do Amazonas



Incidência da doença entre presos da cadeia de Iranduba tem gerado preocupação. Há dois casos confirmados e três suspeitos

Um surto de tuberculose pode estar colocando em risco presos da cadeia de Iranduba (a 25 quilômetros de Manaus). É o que suspeita a juíza do Município, Luciana Nasse, que chegou a suspender, por medida de segurança, as audiências em que os detentos deveriam participar.
Atualmente, 17 internos do sistema prisional do Estado foram diagnosticados com tuberculose. Na 31ª Delegacia de Polícia do Município de Iranduba, dos 28 detentos distribuídos em duas celas, com capacidade para apenas dez presos, dois estão com tuberculose e outros três com suspeita da doença.
Os casos foram confirmados pelo titular da 31ª DP, delegado José Elcy Barroso, que solicitou o encaminhamento dos detentos Júlio César Santos e Alan Maciel de Souza para o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP) em Manaus. Os dois encontram-se internados no local, sob cuidados médicos. “A informação que tenho é de que eles já estão recebendo o devido tratamento no Hospital de Custódia”, informou.
A superlotação e a manutenção precária das celas nas cadeias públicas do Amazonas estariam resultando em condições de vulnerabilidade para os detentos, que acabam sendo acometidos por graves problemas de saúde.
Em Iranduba, mesmo com o afastamento dos presos doentes os que permanecem nas celas temem a propagação do bacilo de Koch, transmissor da tuberculose, em virtude de o ambiente ser insalubre, com celas escuras e mal ventiladas, o que acaba sendo um agente propagador da doença.
Um dos presos ouvidos pela reportagem de A CRÍTICA, Elielton Belmiro de Oliveira, 26, que cumpre pena por assalto à mão armada, disse que seus colegas de cela estão com receio de se contaminar, uma vez que grande parte dos detentos estão apresentando tosse, um dos sintomas da tuberculose.
“Eles (presos) ainda passaram um bom tempo aqui antes de serem transferidos. Estamos preocupados e pedimos que pelo menos uma equipe médica seja trazida ao município para avaliar nosso quadro de saúde”, informou Oliveira, ressaltando que a contaminação pelos colegas deu-se por meio de contato com outros presos que já foram transferidos para os presídios de Manaus.
O investigador de Polícia Civil no Iranduba Eraldo Dantas diz que a situação pegou a todos de surpresa e deixou a equipe em estado de alerta. “É uma situação muito delicada. Tem que ser dada uma solução para o problema, evitando que a doença não se alastre”, advertiu.
De acordo com o coronel Bernardo Encarnação, secretário executivo adjunto da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejus), há registros da doença na maioria das cadeias, mas que em todas os doentes já estão sendo tratados.
Em relação às unidades do interior, a recomendação é que os detentos fiquem isolados e tratados no hospital do próprio município.

Parceria ajuda no diagnóstico e tratamento

Internos das unidades prisionais de Manaus estão tendo acesso a exames e a atendimento gratuito, segundo informou a Sejus. Conforme a secretaria, isso vem sendo possível graças à parceria firmada com o Fundo Global de Luta Contra a Aids, Tuberculose e Malária e com o apoio oferecido pelas secretarias de Saúde do Estado (Susam) e do Município (Semsa).
Outra força no atendimento aos presos tem sido o trabalho realizado pelo Centro de Diagnóstico em Tuberculose “Dr. Carlos Augusto Bonfim Borborema”, inaugurado há três anos.
De acordo com a Sejus, as unidades prisionais abrigam hoje um grande número de pessoas, que acabam sendo mantidas em ambiente restrito, aumentando a possibilidade de contágio.
Para conter a propagação de doenças, o órgão instalou o Centro de Diagnóstico na Cadeia Pública, uma espécie de “porta de entrada” para o sistema prisional. Ao passarem pelo local, detentos têm logo diagnosticados problemas de saúde e recebem tratamento enquanto aguardam o julgamento.

Alta incidência

De acordo com dados do Ministério da Saúde, a Região Norte teve um aumento no número de casos de tuberculose de 2011 para 2012. O Pará e o Amazonas lideram a lista de incidência na região. Ano passado, o Estado vizinho teve 3.634, seguido do Amazonas com 2.216, de Rondônia com 531 e do Amapá com 220 casos.
4,8 mil é o número de presos no AM, sendo 2,8 mil em Manaus. Deste total, 95% são homens. Dados do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) revelou que 41% dos detentos tinham problemas de saúde, quase metade deles doenças respiratórias.

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