No Acre, mãe visita túmulo e descobre que corpo de filha sumiu

Neiva encontrou túmulo da filha vazio (Foto: Neiva Aparecida Maciel/Arquivo pessoal)
Quando perdeu a filha de apenas 5 dias de vida, 12 anos atrás, a funcionária pública Neiva Aparecida Badotti, de 40 anos, acreditou que esse era o fim de uma história triste, iniciada com a doença que a criança contraiu três dias após o parto, no município de Feijó (AC), a cerca de 345 km de Rio Branco. Segundo a mãe, o bebê pegou tétano por um possível erro médico no corte do cordão umbilical, durante o nascimento.
Transferida para Rio Branco, a menina Vitória Badotti Maciel não resistiu e acabou morrendo, sendo enterrada no Cemitério Morada da Paz, na capital. Era nesse local onde ela estava até o dia 2 de janeiro, quando, durante uma visita, a mãe teve uma surpresa ao encontrar o túmulo da filha aberto e vazio.
O cemitério onde filha de Neiva foi sepultada é particular, mas o corpo da menina foi enterrado em uma área que seria de responsabilidade da Prefeitura de Rio Branco. A funcionária pública diz que, ao ver o túmulo da filha aberto, procurou a administração do cemitério e foi informada de que a ordem para a remoção do corpo teria partido do poder público municipal.
"Cheguei lá à tarde e eles tinham tirado ela de manhã, ninguém me avisou nada. Ela estava sepultada há 12 anos", conta.
A diretora de Proteção Social da Secretaria Municipal de Assistência Social, Regiane Oliveira, explica que o auxílio-funeral – benefício concedido pelo governo federal, por lei, a famílias pobres que não têm condições de pagar os custos de enterros – possui regras que estabelecem prazos para a desocupação de túmulos.
Regiane disse, ainda, que a prefeitura está recolhendo os dados referentes a esse caso para avaliar a situação.
"Toda família, quando recebe esse benefício, assina uma autorização para permitir que o município faça o translado dos restos mortais para o ossário – o que vale para crianças depois de 3 anos e adultos após 5 anos. Isso está na lei que regulamenta o benefício", argumenta a diretora.
Neiva, porém, diz que não havia sido informada sobre isso. Ela tirou algumas fotos do túmulo violado e registrou um boletim de ocorrência denunciando o caso.
"Na época, se eles tivessem me falado que um dia eu ia ter que tirar a minha filha dali, eu teria levado o corpo e sepultado em Feijó, nem teria deixado o corpo ali, mas ninguém me falou nada. Quem agilizou tudo para mim, na maternidade de Rio Branco, foi uma assistente social, porque eu estava sozinha. E agora eu poderia ter ido lá com eles e arrumado um canto para ela, ter trazido (os restos mortais) para a minha cidade. Mas eles tiraram sem autorização de ninguém", ressalta Neiva.
Neiva encontrou túmulo aberto sem os restos mortais da filha (Foto: Arquivo pessoal)
"Cerca de 20% dá área do cemitério é da prefeitura, por meio de concessão pública. Dentro desse perímetro, são sepultadas famílias pobres, que recebem esse benefício em situação de emergência. A prefeitura tem um programa que, nessas situações, concede o benefício da terra e os custos funerários. Só que esse benefício tem um prazo para que a família, durante esse período, possa se reorganizar e adquirir um terreno para sepultar os restos em outro local ou levar os ossos ao ossário (gavetas identificadas dentro do Morada da Paz)", explica Regiane.
Mãe guarda foto da filha com um dia de vida e roupinhas que ela usava há 12 anos (Foto: Arquivo pessoal)
A diretora de Proteção Social diz que a Prefeitura de Rio Branco tenta localizar as famílias para notificá-las sobre a mudança, mas nem sempre isso é possível. "Por causa de mudanças de endereço, às vezes a gente não tem a localização correta. Nesse caso, o endereço que temos é o de Feijó, e hoje ela vive em Brasiléia, então (a mãe não teria sido avisada) nem que o município quisesse encontrá-la", diz.
Regiane se comprometeu a entrar em contato com a mãe para tentar encontrar uma solução para o impasse. "Se ela quiser colocar (os restos mortais) em outro cemitério, pode, mas tem que entrar com os processos legais. A gente pode entrar em contato com ela para ver a melhor forma de resolver a situação", finaliza a diretora.
A mãe, que vive no município de Brasiléia, a cerca de 235 km de Rio Branco, diz que, após 4 anos da morte de Vitória, chegou a ser avisada por uma amiga sobre a possibilidade de que o corpo da menina fosse removido. Ela então procurou o Ministério Público Federal (MPF).
"Procurei um promotor federal, ele me disse que não podiam fazer isso e ligou para o dono do cemitério para conversar com ele. O dono afirmou que não (removeriam o corpo), então fiquei despreocupada", ressalta Neiva.
Ela diz que quer os ossos da filha de volta, mas precisa ter certeza de que eles são mesmo dela.
"Não sei o que eles fizeram com o corpo da minha filha, nem sei se são mesmo os restos mortais dela. Hoje só recebo (os ossos) se fizerem um exame de DNA e me provarem que é ela", enfatiza.
Neiva disse também que pediu autorização para ver os restos mortais da menina, mas teve o pedido negado.
"Me informaram que eu só podia vê-la com autorização da prefeitura. Isso quer dizer, para eles mexerem no túmulo da minha filha, violarem, não precisaram da minha autorização, agora para eu vê-la preciso da autorização da prefeitura. Isso é um absurdo", critica a mãe.
Procurada pelo G1, a administração do Cemitério Morada da Paz informou que a única pessoa com autorização para comentar o caso está viajando e não tem nenhum telefone para contato. A administração disse, ainda, que a funcionária responsável voltaria em uma semana
fonte g1