Gosto do meu trabalho’, diz acreana que quebra concreto há 14 anos

Ao lado de uma montanha de pedras é possível encontrar mãos pintadas com esmalte cor de rosa, uma bolsa e uma pequena estante com alguns utensílios domésticos. Ao se aproximar, a surpresa é encontrar Sebastiana Martins Ferreira, de 55 anos, conhecida por Socorro. Com habilidade e sorriso no rosto, a mulher mostra rapidez e intimidade com a profissão que exerce há 14 anos. Quebrando concreto de sol a sol, de segunda a sábado, Sebastiana criou 14 filhos e se diz realizada com o seu trabalho.
Em uma barraca montada no bairro da Escola Técnica em Cruzeiro do Sul, distante 648 quilômetros, é possível ver também a organização típica de uma mulher. Ela montou uma pequena estante com utensílios domésticos. Ao som de um rádio e com muito café, ela está preparada para enfrentar o longo dia de trabalho.
Questionada sobre vaidade, ela diz que é um pouco preocupada com a beleza e que gosta mesmo é de forró nas horas vagas. “Sempre me ajeito para ir ao forró, tem que amolecer os nervos, senão ficam duros”. É com bom humor que Sebastiana acorda às 6h e vai ao trabalho, onde fica quebrando concreto até às 17 horas. Ela diz que muita gente a chama de guerreira pelo trabalho pesado, tipicamente exercido por homens.
“Muita gente diz que sou guerreira porque carregar essa saca de concreto não é fácil”. O peso que dona Sebastiana se refere equivale a mais ou menos 50 quilos, e a saca é vendida por R$ 17. Por semana, ela diz que consegue faturar R$ 500 em períodos bons de venda. “Quando a gente está no inverno, é mais difícil conseguir vender. Vendemos pouquíssimo”.
Na barraca também há um espaço para a rede, onde ela descansa cerca de uma hora após o almoço. Orgulhosa, ela diz que nunca pensou em deixar o trabalho. “Foi com esse dinheiro que consegui criar meus 14 filhos, hoje quase todos são casados. Moro com cinco e gosto do que faço”, garante.
Com sorriso no rosto e música no rádio, Sebastiana trabalha sem se preocupar com preconceito em uma barraca fixa há cinco anos. E não pretende parar o que faz. “Eu gosto do que eu faço, aprendi a gostar”, finaliza.
fonte g1