Vingança levou grupo de bolivianos a tirar a força brasileiros de delegacia. Eles teriam se envolvido em triplo homicídio em San Matías.
Foto ilustrativa
Entre 2006 e 2008, 25 brasileiros foram executados em San Matías
Um grupo de homens enfurecidos queimou vivos dois brasileiros nesta terça-feira (14) após tirá-los a força de uma cela de uma delegacia de polícia no povoado de San Matías, a 800 km de Santa Cruz, situado na fronteira da Bolívia com o Brasil. Os brasileiros foram presos por suspeita de terem assassinado três bolivianos.
Depois de ser divulgada a notícia da captura dos supostos autores do triplo homicídio ocorrido na segunda-feira (13), centenas de pessoas se manifestaram nas ruas de San Matías para exigir vingança.
O grupo ocupou a delegacia durante a noite desta terça, retirando do prédio os dois brasileiros, que foram encharcados com gasolina e incendiados, informaram a rede de televisão “Uno” e o jornal “La Razón”. Eles foram queimados vivos.
“Os dois foram queimados a cinco metros da porta do posto policial”, confirmou o oficial Grover Ramos ao site do jornal “El Deber”, de Santa Cruz, região que engloba San Matías.
Pouco antes, o chefe policial de San Matías, Edwin Rojas, declarara que os brasileiros detidos eram Rafael Max Diez, de 27 anos, e Jefferson Castro de Lima, 22. Segundo Rojas, Rafael teria disparado contra os bolivianos Pablo Parava, Wanderley Costa e Edgar Suárez após uma discussão sobre o preço de duas motocicletas. Jefferson Lima foi preso por suspeita de ser cúmplice do triplo homicídio.
“Foi impossível controlar esta gente. Temos sete policiais, nada mais”, justificou Ramos, oficial da Força Especialde Luta contra o narcotráfico (FELCN).
San Matías, 1.300 km a leste de La Paz, fica na fronteira com o Brasil e tem apenas dez policiais.
25 brasileiros são executados na região de San Matias em 3 anos
Maioria dos crimes não é solucionado pela polícia boliviana; muitos corpos são carbonizados e alguns não identificados
Vinte e cinco brasileiros foram assassinados em San Matias, Bolívia, na fronteira com o Brasil, nos últimos 3 anos. A maioria dessas mortes não foi esclarecida, mas a polícia boliviana suspeita que, pela violência utilizada, como armas pesadas, tortura e até carbonização de corpos, seriam pessoas ligadas ao narcotráfico.
A chacina que vitimou 6 brasileiros em abril é apenas mais um capítulo na história de violência protagonizada por estrangeiros na terra sem lei em que se transformou San Matias, cidade com cerca de 12 mil habitantes que faz divisa com Cáceres (225 km a oeste de Cuiabá).
Na região, brasileiros envolvidos com o narcotráfico e roubo de veículos morrem e matam, sem que a polícia boliviana, que trabalha nas piores condições possíveis, consiga esclarecer algum deles. Desde 2006, a polícia boliviana conta corpos de brasileiros em San Matias e região. Muitos brasileiros estão também entre os criminosos.
Só este ano, além dos 6 cadáveres, que ainda não foram identificados por conta do estado de decomposição, foi registrado o homicídio da cuiabana identificada como Cleonice Gaúcha. O caso dela é uma exceção, pois trata-se de um crime de latrocínio. Ela foi assassinada por um adolescente de 16 anos que lhe roubou a caminhonete. Ele está preso na Bolívia.
Em 2008 foram registrados 8 assassinatos de brasileiros na região de San Matias. Alguns impressionam pelos requintes de crueldade, como no caso de Zenildes da Silva Alves, cujo corpo foi encontrado dia 17 de novembro dentro do carro lançado em um canal, com várias marcas de tiros, e carbonizado. A polícia suspeita que seja envolvimento com o tráfico, mas durante o reconhecimento do cadáver, a esposa disse que ele era agropecuarista e não tinha conhecimento do envolvimento do marido com atividades ilícitas.
Outras mortes que chocaram a população foi o triplo homicídio de um pai e 2 filhos, em janeiro do ano passado. Em 1º de outubro, depois de vários crimes sem solução, a polícia se depara com outra execução de brasileiro. Dessa vez a morte de Vanildo Ramos, 28, de Cáceres. Ele foi morto a tiros dentro do carro estacionado no bairro Copacabana. Vanildo havia sobrevivido a um atentado a tiros em fevereiro de 2007. A polícia boliviana suspeita do envolvimento dele com o narcotráfico.
Em 2007, 2 brasileiras, não identificadas, foram metralhadas e mortas. Uma delas estava grávida. Em 2006, Jayciane Kelles Gomes, 24, foi torturada e morta a tiros no bairro San José de San Matias. Semanas antes, o marido dela, também brasileiro, havia sido torturado e morto no país vizinho. Há ainda o caso do brasileiro Diones Fernandes Seipoza, 21, metralhado dentro de casa. Ao lado do corpo os criminosos deixaram um bilhete que dizia: “Faltam mais 5″.
Autoridades bolivianas admitem que a região de fronteira entre Brasil e Bolívia se transformou em local de refúgio de criminosos brasileiros e bolivianos. Calculam que pelo menos 700 brasileiros processados por tráfico, assassinato e roubo de veículos se refugiaram em San Matias. Mas apesar das informações não conseguem combater o problema. A justificativa é a mesma das autoridades brasileiras. A fronteira extensa e a falta de homens e veículos para o patrulhamento constante.
Para a polícia boliviana, a entrada sem controle de brasileiros tem colaborado com a falta de segurança na região, já que seriam eles os responsáveis pela entrada de produtos químicos para refino de droga e de veículos roubados na região, que seriam trocados por droga. No Brasil, essa entrada sem controle de bolivianos resulta em prisões, quase diárias, de “mulas” do tráfico, flagradas nas estradas e ônibus que atendem a região de fronteira.
A entrada de brasileiros criminosos na Bolívia faz parte de um documento que o Grupo Especial de Fronteira (Gefron) entregou ao Consulado Boliviano em Cuiabá no final de 2006. Ali constam todos os veículos que foram roubados em Mato Grosso e que teriam entrado ilegalmente em território vizinho. São carretas, tratores e caminhonetes importadas.
Enquanto criticam que brasileiros entram no país mostrando apenas a carteira de identidade, policiais bolivianos dizem que no Brasil a situação é bem diferente e que os estrangeiros são vítimas de preconceito. Alegam que os bolivianos são registrados e revistados e se exige deles a comprovação da vacina contra febre amarela.
Para os bolivianos, os brasileiros se beneficiam com a proximidade de San Matias, onde podem comprar produtos a um preço baixo, por conta da desvalorização da moeda local, se transformam em negociantes de sucesso e circulam pela cidade em carros sem placa, sem serem importunados. Eles fazem comparação com Cáceres, que para eles é uma cidade de 100 mil habitantes onde as pessoas respeitam as leis de trânsito e a violência é pequena, em comparação com a vizinha San Matias.
Apesar dos conflitos, um termo de cooperação assinado em março deste ano pelos 2 governos está possibilitando o trabalho conjunto das 2 polícias.
A primeira ação concreta dessa parceria foi a Operação Brabo (Brasil-Bolívia) 1, deflagrada entre os dias 27 de março e 1º de abril de 2009. Nesse período foram instaurados 3 inquéritos por flagrantes, com 6 pessoas presas. Também foram apreendidos quase 30 kg de pasta-base de cocaína. Dois brasileiros que viviam ilegalmente nas cidades bolivianas de San Matias e San Ignácio foram deportados.
Pistas e estradas clandestinas foram destruídas e outras descobertas. A fronteira entre Cáceres e San Matias teve barreiras fixas e móveis e reforço na fiscalização com sobrevoo de aeronaves da PF. Os rios Jauru e Paraguai, na divisa entre os 2 países, foram fiscalizados de barco.
A operação teve como objetivo reprimir o tráfico de drogas, armas, produtos químicos, assim como a imigração irregular, evasão de divisas, contrabando, descaminho e exportação ilegal de produtos de crime, além de combater organizações criminosas transnacionais.
Mortos na Bolívia entre 2006 e 2008
04/2006 – Desaparece o brasileiro de apelido Marruá, de Cáceres. O corpo foi encontrado 8 dias depois, em São José da Fronteira.
27/07/06 – O brasileiro Diones Fernandes Seipoza, 21, o Calango, foi metralhado dentro de casa. Ao lado do corpo os criminosos deixaram um bilhete que dizia: Faltam mais 5. Além dos 5 tiros que o atingiram, os autores deram uma punhalada no rosto dele.
02/05/2006 – Assassinado o brasileiro Carlos da Guia de Arruda, 30, de Cáceres.
12/05/2006 – Jayciane Kelles Gomes, 24, foi torturada e morta a tiros no bairro San José de San Matías. Semanas antes, o marido dela, também brasileiro, foi torturado e morto na Bolívia.
29/06/2006 – Assassinado no bairro São Pedro, em San Matías, Fabio Amaral Metz, 31, e o primo dele, Jaime Amaral Miranda, ambos brasileiros.
2007- sem data definida Duas mulheres brasileiras são metralhadas e mortas. Uma delas estava grávida.
2007 – sem data definida Brasileiro suspeito de envolvimento com o narcotráfico e roubo de veículos é assassinado em San Matias.
01/2008 – Foram assassinados os brasileiros Querubin Toledo Crespo, 51, e os filhos dele, Johnny Moisés, 24, e Hebert Toledo, 25. O crime ocorreu em San Fernando, a cerca de 100 km de San Matías.
01/10/2008 – Vanildo Ramos, 28, brasileiro, foi morto a tiros, dentro do carro, no bairro Copacabana. Vanildo havia sobrevivido a um atentado a tiros em fevereiro de 2007. A polícia suspeita do envolvimento dele com o narcotráfico.
22/10/2008 – O estudante universitário brasileiro, Carlos R., é ferido a balas no bairro Copacabana, em San Matías, e o primo dele é sequestrado. Não há notícias sobre o paradeiro dele.
25/09/2008 – O corpo do brasileiro Miguel Ângelo Dieagues, 41, é encontrado em uma rodovia. Ele foi torturado e executado a tiros.
03/11/2008 – Assassinado em um mercado de San Ignacio de Velasco o brasileiro Edson Leite Flores, 26.
17/11/2008 – Encontrado o corpo do brasileiro Zenildes da Silva Alves, alvejado a tiros e queimado, no interior de um veículo, jogado dentro de um canal.
2008 – sem data definida Polícia boliviana informa a morte de um militar brasileiro em San Matias, na fronteira com o Brasil.
04/2009 – Um adolescente de 16 anos matou a brasileira “Cleonice Gaúcha” enquanto ela descansava. Ele roubou a caminhonete para fugir, mas foi pego pela polícia.
15/04/2009 – Com a ajuda da Polícia Federal, policiais bolivianos desenterram 6 corpos – 5 homens e uma mulher – de brasileiros. Eles estavam em uma cova profunda, enrolados em sacos plásticos. A suspeita é de que as vítimas atuavam no narcotráfico.
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