Equipes da Liga Cruzeirense, de Cruzeiro do Sul, estão alojadas nos vestiários do ginásio Álvaro Dantas, em Rio Branco. Rifa foi realizada para auxiliar nos gastos
O que o amor pelo esporte não faz. A delegação da Liga Cruzeirense de Handebol, do município de Cruzeiro do Sul, situado a 696km de Rio Branco, capital do Acre, está provando que tudo é possível quando se tem determinação e um objetivo. Com cerca de 30 membros, o grupo formado por jovens atletas entre 16 e 23 anos está alojado em três vestiários do ginásio Álvaro Dantas, também conhecido como Ginásio Coberto. Um dos vestiários abriga o time feminino, e os outros dois a equipe masculina.
Time da Liga Cruzeirense de handebol está alojado no ginásio Álvaro Dantas (Foto: Duaine Rodrigues)
A Liga Cruzeirense estreou no Campeonato Estadual de Handebol na noite desta quarta-feira (11) com derrota tanto no masculino quanto no feminino. Mas as derrotas parecem ser o mínimo frente às dificuldades que os atletas estão enfrentando para participar da competição, que somente tem jogos na cidade de Rio Branco.
A delegação chegou para o torneio na noite de terça-feira (10), após longas horas de viagem em um ônibus cedido pelo Instituto Federal do Acre (Ifac). O armador Marcelo Augusto (20) conta que eles buscaram apoio no município, mas sem sucesso. O jeito então foi, com alternativas idealizadas pelos próprios integrantes da equipe, arrecadar recursos para garantir a participação na competição.
Com imprevisto, jogadores se alojam no ginásio (Foto: Duaine Rodrigues)
- Estamos participando pela terceira vez, mas é a primeira vez que passamos por essa situação. A gente foi atrás de patrocínio da prefeitura, mas recebemos um não bem bonito. O Ifac disponibilizou o ônibus e o resto ficou por nossa conta. Foi promovida uma rifa com o intuito de arrecadar dinheiro. Cada atleta ficou responsável por vender 30 rifas. No final, arrecadamos R$ 1,7 mil. Juntando com o que foi gasto com os prêmios da rifa, restou mais ou menos R$ 1,4 mil, que vai ser utilizado para pagar o diesel do ônibus - explicou o jovem.
A equipe saiu de Cruzeiro do Sul com um lugar certo para ficar em Rio Branco, mas, quando chegou à capital, o cenário não era aquele que eles imaginavam.
- Foi tudo providenciado de última hora porque tínhamos um lugar programado para ficar, mas fomos informadas que seria cobrado R$ 15 por pessoa. Então, tivemos que correr atrás de colchão, colchonete nas casas de vizinhos e parentes - conta a pivô do time feminino Caren Daiane (17).
Diante do imprevisto, na primeira noite praticamente todos dormiram no chão dos vestiários do ginásio, usando como ‘cama e travesseiro’ os lençóis que traziam em suas bagagens. O espaço do ginásio foi cedido após solicitação feita pela presidente Federação Acreana de Handebol, Maria Rosaídes, a Bolha, ao secretário adjunto de Esportes, Petronilo Lopes.
Bolha, presidente da Federação Acreana de Handebol (Foto: Divulgação/TV Acre) |
Bolha, presidente da Federação Acreana de Handebol (Foto: Divulgação/TV Acre)
- A Fach tenta ajudar. Apesar de que não é de nossa responsabilidade, mas estamos juntos para oferecer o melhor. Precisamos urgentemente de um bom alojamento para poder realizar nossas competições com a vinda dos municípios - comentou Bolha.
O coordenador do ginásio, Carlos Alberto da Silva (49), que há 31 anos trabalha na função, conta que é a primeira vez que uma delegação de atletas fica alojada no local.
O ginásio já serviu de abrigo, mas para pessoas afetadas pela cheia do Rio Acre e não para uma equipe esportiva. Achei que é muito importante para eles. Pelo que vejo estão com vontade mesmo. Estou dando o suporte que posso. Trouxe ventilador de casa, arrumei a cozinha do ginásio para eles, água mineral - relatou.
O armador Renan Silva afirma que para passar por cima das adversidades é preciso muito amor ao esporte.
- A gente faz por amor ao esporte, porque gostamos do que fazemos. As condições são difíceis, tem que ter muito amor porque senão não vai. Tem que matar um leão por dia. A sensação de dormir no banheiro é constrangedora. Sabemos que é um local aonde podemos pegar doenças, pois estamos expostos. O local é muito quente, tem muita gente. Estamos em 16 em um vestiário e em três no outro. Para um atleta dormir nessas condições e depois praticar esporte é difícil - comentou