Não criemos pânico Um varadouro rodeado pelo rio

Em 2014, tive a oportunidade de cobrir a enchente histórica do Rio Madeira para a TV Gazeta e portal AGazeta.Net. Como jornalista, uma experiência para a vida toda. Cenas históricas e que serão lembradas por muito tempo.
Ao trafegar pela BR-364, olhava com admiração e espanto ao mesmo tempo. Nas imagens aéreas de Josenir Melo, não era nenhum exagero afirmar que o rio virou mar. Só que tudo aquilo causava um certo temor.
Jamais vou esquecer da declaração de um caminhoneiro em uma entrevista que fiz nas proximidades da balsa que faz a travessia do Madeira. Ele disse que "o homem abusa e abusa da natureza, mas Deus faz uma revolução dessa e mostra: -Aí o que Eu faço."
Essa 'revolução' foi responsável pela maior enchente do Madeira nos últimos 100 anos. Em caminhões, andamos vários e vários quilômetros sem enxergar o asfalto da rodovia. A medida que retornávamos, a situação se agrava ainda mais.
Quem conhece a balsa sabe que a travessia leva, em média, 20 minutos. O rio avançou tanto que comprometeu o local onde as embarcações fazem o vai e vem de veículos. Levamos três horas para ir de uma margem a outra do imponente Madeira.
Acredito que se a tão necessária ponte estivesse pronta não iria solucionar, porém, amenizaria os transtornos causados pela enchente. Na verdade, aquela balsa é um claro sinal de atraso para o desenvolvimento do Estado.
Filas e filas de caminhões à espera da embarcação. Horas de espera e muita desorganização marcam aquele local. Quem sofre são caminhoneiros que aguentam, muitas vezes calados, carros pequenos desrespeitarem a fila que existe para chegar a balsa.
Todo aquele cenário de crise fez refletir o quanto o Acre é frágil. Somos extremamente dependentes de apenas uma estrada que durante o inverno amazônico se transforma em um varadouro rodeado pelo rio.
Essa é a visão atual dos trechos mais críticos. Não há cristão que olhe a imagem e não se assuste e não imagine que o pesadelo do ano passado volte a acontecer, por mais que as previsões digam que uma cheia daquelas proporções volte a acontecer só daqui a 300 anos.
Talvez essa seja a confiança das autoridades. A tão falada “elevação do nível da pista” já se afogou nas águas do Madeira. Ninguém mais fala ou cobra do DNIT esta importante obra. Dizem que é demorado mesmo, mas vamos ficar nisso?
O Acre talvez não fique isolado. A torcida, claro, é essa. Só que os políticos acreanos não podem cruzar os braços. Já que Rondônia parece não estar nem aí para aquele pedaço do Estado deles. É preciso mais empenho. Caso contrário, estaremos sempre convivendo com incertezas todos os anos. Não quero que meus tatatatatatatatatatatatata...netos passando aperreio em 2314.
fonte www.agazeta.net