O ex-presidente Lula visita pela quarta vez o Acre, desde o fim de seus oito anos de mandato no Palácio do Planalto. Como presidente investiu no estado que Acre do que o somatório de recursos investidos pelos governos Sarney, Collor, Itamar e as duas gestões de oito anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Foram empreendimentos que começam com a ligação rodoviária com os países banhados pelo Pacífico por meio da Rodovia Interoceânica, a pavimentação da BR-364, o programa Luz para Todos, a ligação do Estado com o sistema energético nacional, o Bolsa Família e os grandes avanços nas áreas da produção, da educação, da saúde, do saneamento básico e da segurança pública, entre outros setores. Um festival de grandes obras que fizeram o Acre dar um salto gigantesco na sua geração de emprego e renda nos últimos 16 anos. Já fora do governo, ajudou, com seu prestígio e amizade, a viabilizar o Complexo de Piscicultura e o Call Center. Agora, retorna para inaugurar outra obra fundamental: o Complexo do Projeto Agropecuário e o Frigorífico de Suínos Dom Porquito, iniciativa que representará nova perspectiva de futuro para a região, em especial para o Vale do Acre.
Sempre que perguntado por que tem esse carinho especial pelo Acre, o ex-presidente responde com ênfase. Mesmo não vencendo as eleições no Estado, tal como sua sucessora Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula nunca parou de ajudar o Estado, que há menos de três décadas dependia apenas do extrativismo secular da borracha e da castanha para sobreviver.
“Muita gente pergunta por que gosto tanto do Acre se muitas pessoas do Estado não votam em mim. O meu caráter não é esse. Eu não governo pensando que todo dia as pessoas venham me agradecer. É porque eu acho que o Brasil tem que ser tratado de forma igual, que o Acre tem que ser tratado igual a São Paulo, a Minas Gerais, ao Rio de Janeiro”, diz Lula.
Essa disposição é reconhecida pelo governador Tião Viana, que fez questão da presença de Lula na solenidade de amanhã, assim como fez na inauguração do frigorífico da estação de piscicultura, por exemplo. “Lula sempre foi nosso parceiro e nunca se esqueceu do povo acreano. Lula é amado por todos nós. Um companheiro de valor”, diz Tião Viana, agradecendo o que o ex-presidente Lula fez e a atual presidenta Dilma Rousseff continua fazendo em termos de investimentos em favor da melhoria da qualidade de vida dos acreanos.
O governador Tião Viana esperava também a presença da presidente Dilma que, de última hora cancelou a vinda ao estado, porque teve que antecipar a agenda na COP 21 em Paris e ainda cancelar a viagem ao Japão, em razão do clima político e das importantes votações do ajuste fiscal que devem acontecer na próxima semana no Congresso, em Brasília,
O presidente da Integração do Acre
O compromisso do ex-presidente Lula com o progresso do Acre remonta a janeiro de 1999, quando Jorge Viana foi eleito pela primeira vez governador e recebeu orientações e dicas de Lula para começar a recompor e ampliar a infraestrutura urbana e rural de todo o Estado, que estava destroçada por governos da oposição, sem compromisso e responsabilidade com os bens e recursos públicos. Até o Palácio Rio Branco, um dos símbolos da história do Acre, estava em ruínas.
O compromisso com os acreanos seguiu pelo segundo governo de Jorge Viana, quando Lula, já eleito presidente da República, pode por em prática, enfim, os grandes projetos que pensava executar na terra sustentável de seu primeiro amigo acreano Chico Mendes, que ele sempre tratou com especial atenção e carinho.
Foi aí, então, que o presidente da República, o governador Jorge Viana, a ministra Marina Silva e o senador Tião Viana puderam não só acelerar a infraestrutura do Estado para o seu crescimento econômico e social, como incluí-lo num contexto geográfico capaz de dar vazão aos produtos de seu crescimento como Estado amazônico.
Com o apoio de seus amigos acreanos, Lula não só pensou na integração interna, mas também na externa. Consolidou a pavimentação da BR-317 e partiu para garantir o tráfego da BR-364 pelo menos durante o verão amazônico, dando oportunidade aos acreanos de se abraçarem e se verem mais constantemente, de Rio Branco a Cruzeiro do Sul, passando por Sena Madureira, Manoel Urbano, Feijó e Tarauacá.
Pensando na Amazônia Ocidental e, mais precisamente no Acre, Lula decidiu que o Brasil iria ajudar a financiar a construção da rodovia entre Iñapari, na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia, até as cidades litorâneas de Illo, Matarani e San Juan de Marcona, no Pacífico peruano, numa extensão de 2,6 mil quilômetros, com custo de US$ 1,8 bilhão.
Esse foi o corredor rodoviário que Lula ajudou a construir para facilitar o escoamento da produção do Acre, dos outros Estados da Amazônia Ocidental e de parte do Centro-Oeste brasileiro para os países banhados pelo Pacífico e para o Norte da América do Sul, para a costa oeste norte-americana e para os países asiáticos.
Falando sobre a Rodovia Interoceânica, quando esteve no Acre em agosto de 2013, Lula disse que os governos acreanos também podem contar com ele para atrair empresários brasileiros para investirem no Estado.
“Se quiser exportar para a Ásia venha para o Acre. Aqui tem rodovia, aqui tem povo trabalhador, politizado, povo que quer crescer, que sabe trabalhar, que quer estudar. Aqui não é terra de cabra mofino. Aqui é terra de cabra brigador”, disse Lula.
Essa profecia do presidente Lula, mais que nunca, se torna um ato visionário, que anteviu ações como o projeto de Piscicultura e agora o projeto Dom Porquito, que devem usar essas estruturas viárias, em especial a estrada Interoceânica para fazer o escoamento até a Ásia e a integração do Acre com o mercado internacional, abrindo novas frentes econômicas e novas oportunidades de desenvolvimento integrado e ambientalmente correto.
De sindicalista a presidente e líder político: O Acre na vida de Lula
A colaboração do ex-presidente Lula para os grandes avanços do Acre nos últimos 34 anos começa lá em 1980, quando ele recebe no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo (SP) a visita de dois ilustres acreanos. Eram o seringueiro Chico Mendes e o sindicalista João Maia, que estavam ali para pedir ao então nascente líder operário ajuda para fundar no Acre o mesmo partido que ela acabara de fundar em São Paulo: o Partido dos Trabalhadores (PT).
“Depois de se encontrarem com Lula, Chico Mendes e João Maia deixaram São Paulo com as primeiras fichas de filiação preenchidas para fundarem o PT no Acre”, conta o senador e ex-governador Jorge Viana, que conhece e convive com Lula desde a década de 1980, quando assessorava Chico Mendes na época de seu assassinato em Xapuri, em 22 de janeiro de 1988.
Meses depois de receber Mendes e Maia, Lula vem ao Acre participar do velório do líder seringueiro Wilson Pinheiro, assassinado dentro da sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, que ele presidia e era considerado o maior sindicato da Amazônia, com mais de cinco mil filiados.
Discursando para milhares de trabalhadores, Lula disse a mais famosa frase que pronunciou em suas caminhadas pela Amazônia: “Está na hora da onça beber água”. A frase foi considerada uma provocação para os trabalhadores fazerem justiça contra o suspeito de assassinar Wilson Pinheiro e rendeu a Lula um processo baseado na Lei de Segurança Nacional do regime militar.
“Em vez de afastá-lo, esse processo aproximou ainda mais Lula do Acre. E foi daí que nasceu essa grande amizade dele com o nosso Estado”, lembra Jorge Viana, ao comparar a semelhança do trabalho que Lula desenvolvia em São Paulo na fundação da CUT e do PT com o trabalho sindical que se desenvolvia no Acre.
Naquela época, o PT e a Igreja Católica eram as duas grandes forças usadas pelos sindicatos de agricultores e de seringueiros do Acre para, junto com a Contag, comandada por João Maia, se contraporem à grande força política imposta pela UDR, comandada pelos fazendeiros vindos do Centro-Sul.
Quando Chico Mendes foi assassinado em 1988, o abalo foi grande, mas Lula estava novamente no Acre conosco acompanhando mais um momento triste para a história do movimento social do Estado.
Amanhã, em outra circunstância, Lula volta a Brasileia, não mais para chorar uma tragédia, mas para colher a semente plantada do respeito, do progresso, da inclusão social, do respeito e do compromisso. Lula e o Acre se reencontram hoje, no mesmo palco da primeira viagem dele ao estado, com o Acre transformado e orgulhando seus cidadãos, que já não choram massacres, mas celebram a vida e o desenvolvimento.
fonte www.jornalatribuna.com.