A Polícia Federal prendeu, durante a Operação Parcas, na madrugada desta quinta-feira (29), seis pessoas suspeitas de vender medicamento abortivo, em Cruzeiro do sul (AC). Entre os suspeitos está o pai de uma juíza, proprietário de uma farmácia. A investigação da PF ocorreu após uma denúncia feita pela reportagem do G1 que identificou várias pessoas, incluindo servidores públicos da Saúde e funcionários de farmácias vendendo, sem nenhuma restrição, o medicamento proibido por lei.
A operação conta com 70 agentes federais que cumprem 6 mandados de prisão, 10 de busca e a 4 conduções coercitivas. As buscas estão sendo feitas em hospitais, laboratórios e estabelecimentos comerciais.
Os exames periciais realizados pela PF permitiram constatar que se tratavam de comprimidos de origem estrangeira (Itália), sem registro na Agência Nacional de Saúde (Anvisa) e de comercialização proibida no Brasil.
Durante a operação, foram presos o proprietário e dois funcionários de uma farmácia localizada no centro de Cruzeiro do Sul, além de dois servidores públicos e o dono de uma distribuidora de bebidas.
Foram intimados também a prestar depoimentos na delegacia, uma enfermeira suspeita de cobrar até R$ 600 para praticar abortos, além de um vereador do município deGuajará (AM) e seu irmão, suspeitos de induzir uma menor de 16 anos, grávida do vereador, a praticar um aborto.
O delegado de Polícia Federal Milton Rodrigues Neves, que comandou a operação, explica que a comercialização, exposição à venda, ou guarda em depósito para vender ou de qualquer outra forma distribuir ou entregar medicamento de origem estrangeira e sem registro na Anvisa é considerado crime hediondo e está sujeito a pena de 10 a 15 anos de reclusão. As penas são mais severas que as previstas para o tráfico de drogas.
Segundo o delegado, a prática do aborto é também considerada crime hediondo. Comete o mesmo crime quem auxilia a gestante, induzindo ou pagando para que o aborto aconteça. O crime está previsto no artigo 124 do código penal, com pena de detenção de até três anos.
As seis pessoas presas durante a operação foram conduzidas à delegacia da Polícia Federal em Cruzeiro do Sul e estão à disposição da Justiça.
A operação foi batizada com o nome de 'Parcas' em referência a três deusas da mitologia relacionadas a gravidez humana, segundo a PF. "Nona tece o fio da vida no tero materno, até a nona lua; Décima representa o nascimento efetivo, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, o individuo definido, a décima lua. Morta é a outra extremidade, o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento".
Pontos de venda
Vários pontos de vendas foram identificados, como também vendedores ambulantes que faziam a entrega em pontos a cidade.
Vários pontos de vendas foram identificados, como também vendedores ambulantes que faziam a entrega em pontos a cidade.
A reportagem verificou que em algumas farmácias os proprietários não guardavam o remédio na prateleira com medo da fiscalização. Já outros, guardavam dentro da farmácia e depois de negociar a venda com o cliente entravam no interior da loja e efetuavam a venda. O abortivo era vendido entre R$ 100 a R$ 250.
Casos de aborto em Cruzeiro do Sul
Segundo dados revelados pela maternidade de Cruzeiro do Sul, nos últimos dois anos foram registrados 358 abortos. De acordo com relatório da unidade, de janeiro de 2012 até junho de 2013, foram registrados 94 abortos entre jovens e adolescentes com idades de 12 e 20 anos, outros 252 abortos entre mulheres com idade de 20 a 40 anos e doze com mulheres acima de 40 anos de idade.
Segundo dados revelados pela maternidade de Cruzeiro do Sul, nos últimos dois anos foram registrados 358 abortos. De acordo com relatório da unidade, de janeiro de 2012 até junho de 2013, foram registrados 94 abortos entre jovens e adolescentes com idades de 12 e 20 anos, outros 252 abortos entre mulheres com idade de 20 a 40 anos e doze com mulheres acima de 40 anos de idade.
Segundo a diretora da maternidade, Fabiana Ricardo, as mulheres já chegavam na unidade de saúde com o aborto realizado. "Todas essas mulheres chegavam com sangramentos, o bebê já tinha sido abortado. O que não podemos afirmar é como o aborto aconteceu, tendo em vista que elas diziam que caíram ou tiveram algum desentendimento com o companheiro", diz.
fonte g1